Eu me sento e espero pelo entardecer. São momentos como esse em que vemos como é bela a vida. Em que outra hora veríamos o céu laranja? Durante o amanhecer, ele está vermelho, é quando o céu mostra as marcas da noite. Ao entardecer ele se arrepende pelos erros cometidos no dia. Agora está escurecendo, porém ainda é claro, posso ver os últimos raios de sol no horizonte. A noite está chegando, e o dia vai partindo. Porém, ao entardecer, eles param para conversar. Dois opostos convivendo em perfeita união. O entardecer é a hora mágica, é a hora em que renovamos a nossa esperança: por mais escuro que esteja, o sol há de nascer e iluminar meus caminhos, por isso, posso continuar.

Isabella Quaranta

segunda-feira, outubro 04, 2010

Vamos agitar as coisas

Finalmente, eu fiz o tão aclamado capítulo 14! Ele não está tão grande quanto eu pensei que ia ficar, decidi ser piedosa e dividí-lo. A questão é que nesse capítulo os problemas não são mais coisas simples de monstros "atacando" pessoas. Agora temos perseguições, tiros, e risco REAL de vida!

Foi um sufoco escrevê-lo. Vai demorar um pouquinho para eu postar em pdf e em e-book, então aguardem pacientemente.

capítulo 14 - perseguidos

Capítulo 14

Lucerna. Eu sinceramente esperava mais do lugar onde a primeira pista nos trouxe. A viagem foi tranquila, a ida ao hotel também. Tudo está correndo bem demais. Eu não via a hora de sair de dentro daquele avião. Rebecca gritava desesperadamente, Enzo – agora namorado oficial dela - a socorria, Derek ria da situação, Zoey lia um livro, Miranda e Rute olhavam assustadas para Rebecca, Nathan dormia, Michelle ouvia música e Luke ficava olhando pela janela como se estivesse em outro mundo. Do nada, Zoey e Derek começam a discutir e bater boca. Ver aquela coisinha, aparentemente calma, de cabelo rosa brigando e reclamando em alta voz com Derek foi surpreendente. Ele conseguiu irritá-la. Nem eu e toda minha chateação foi capaz de deixar Zoey assim.

Luke consegue ficar estranho cada dia um pouco mais. Depois de Enzo ter feito a declaração e o pedido para Rebecca na festa de despedida, ele não falou com ninguém da equipe. Para um garoto que estava loucamente apaixonada por ela, ele desistiu de tudo muito fácil. Eu ainda não desisti, decidi que vou deixá-la ter seu tempo. Serei seu amigo até que a oportunidade certa chegue. Quando Enzo sair de cena, o grande Jean Patrick aqui estará ao seu lado, dando todo o apoio que for preciso. Eu tenho esperanças de que com o tempo, meus sentimentos por ela mudem, ou pelo menos diminuam. Não vou suportar sofrer mais. Então Batman, vamos prosseguir com a cabeça erguida e dando uns bons chutes em quem passar na frente.

- Jean Patrick sua anta retardatária, faça o favor de parar de sonhar acordado e andar? – Derek grita.

- Vocês pelo menos sabem onde tem uma locadora de carros por aqui?

- Claro que sei! – Derek retruca com desdém. – Se sua memória está igual a de um peixe de aquário, eu vou refrescá-la: eu nasci aqui.

- Eu achava que você havia nascido em Berna!

- Não. Sou de Lucerna. Mesmo assim, vamos logo. Somos 10, temos de pegar dois carros. Eu não sei dirigir.

- Eu sei. – Nathan informou. – Precisamos de outro motorista.

- Eu posso fazer isso. – digo por fim.

- Você tem carteira, JP? – Enzo pergunta com um sorriso sarcástico.

Ele sabe que não. Ele sabe que eu não posso. Ele sabe que eu fiz auto-escola escondido e contra a vontade do meu pai.

- E isso será necessário? – digo com um sorriso cínico.

- Por mim não. – Derek dá de ombros. Zoey, Enzo, Michelle e Rebecca concordam.

- Então está feito. – Nathan toma a voz.

- Rebecca, Enzo, Luke e eu vamos com Nathan. – Miranda divide. – O resto vai com Jean Patrick. Tudo bom por vocês?

Todos concordam, eu inclusive, mesmo que não tenha gostado muito da ideia de ter Rebecca em outro carro. É preciso. Eu tenho de me afastar dela. Eu tenho de tomar as rédeas da minha própria vida.

Nathan e Enzo assumem a negociação dos carros. Precisamos de algo discreto e potente. Depois de alguns minutos, eles saem da loja com duas chaves. Enzo sorri e me joga uma delas.

- Só não bata ou amasse, não pagamos o seguro adicional. – comenta.

- Digo o mesmo. Tentem não ficar muito atrás de mim – revido enquanto caminhávamos para o estacionamento dos carros.

Peguei o carro 7291. Espero que seja um daqueles Land Rover monstruosos. Cada um da minha equipe foi para um lado, talvez vá mais rápido assim. Devia ter uma lógica de organização aqui! Não há lógica, ele sai de 451 (uma Ferrari) para 9834 (um mini Cooper). Antes que eu comece a praguejar e me irritar, Zoey grita:

- HEY HEY! ACHEI, GENTE!

Corro até lá esperando pelo meu carro amado e grandão. A medida que vou me aproximando posso ver Zoey parada ao lado de um carro pequeno – não muito -, prata e feio. Um Kia Soul! Foi isso que Enzo e Nathan trouxeram para mim? Não tinha nada pior não?

- Oun. Eu adoro esse carro! – comenta Miranda – Me lembra um carro de brinquedo que eue tinha quando pequena.

Isso só pode ser brincadeira.

x.x.x.x

Enquanto os rapazes não encontravam o carro, Michelle foi comprar algo na lojinha e eu fico sentada ouvindo música e me isolando do resto do mundo. Em me balanço e acompanho o Weezer nos “uh uh” de Island In The Sun. Há quanto tempo não faço isso. Quero dizer, ficar sentada cantando. Acho que eu nunca havia reparado como a minha vida era boa e fácil. Tudo que eu precisava fazer era estudar, tirar boas notas e me manter longe da mídia e de perigo. Foi por esse último motivo que eu entrei em um curso de tiro escondida. Agora tudo está tão confuso e complexo, que minha cabeça parece explodir.

E aquele cara do aeroporto? Foi muito estranho. Eu estava indo para o banheiro, quando ele chegou perto de mim e me entregou um envelope com um aviso “Talvez você vá precisar”. Quando eu abri o envelope, tinha nada mais nada menos que uma pistola 9 mm. Confesso que fiquei meio assuntada de cara, mas ele me parecia tão confiável, não sei o que deu em mim. Agora a pistola está na minha bolsa, eu estou apavorada. O que será que acontecerá daqui pra frente? Definitivamente, algo está errado.

x.x.x.x

Quando vejo Rebecca, ela está sentada, sozinha, se balançando da direita para a esquerda no ritmo da música e repetindo uns “uh uh” eventualmente. Seu semblante era de indiferença, estava completamente aérea à realidade. Eu devo falar com ela. Começo a tentar sair do lugar, mas algo grita na minha cabeça. NÃO! Estaco ali. Isso é responsabilidade do namorado dela... Mas ela não deixa de ser minha amiga. Eu vou até lá.

- JP! – Rute me chama – Vamos logo, Enzo e Nathan já estão no outro carro.

Hesito. Meu olhar retorna ao lugar onde Rebecca estava. A figura de Enzo ao seu lado me faz voltar para o carro e largar os dois ali.

x.x.x.x

- Vamos, amoré mio? – Enzo sussurra no meu ouvido.

- Ahn? Sim. Desculpe, estava meio distraída. – levanto do banco e acompanho Enzo até o carro. Ele sorri e segura minha mão.

Saímos em direção a um Kia Soul vermelho. Segundo Enzo, o outro grupo está em um carro igual, só que prateado. Nathan assume o volante e nos guia pelas ruas de Lucerna até o hotel próximo à Torre D’Água.

x.x.x.x

Era só o que me faltava! Já não basta eu estar dirigindo atrás de um bicho-preguiça dopado com calmante, agora temos de pegar um desvio. Dois babacas batem e a gente que se prejudica! Um SUV preto já é uma imagem constante no meu retrovisor.

- Derek. – chamo – Há quanto tempo esse SUV está nos seguindo?

- Você notou também? – concordo com um movimento de cabeça sem desviar o olhar da rua – Acho que desde que entramos na locadora de carros.

- Hum. Ligue para Enzo. Vamos mudar um pouco os planos. – entro bruscamente na primeira rua que vejo e acelero o máximo que posso. Viajar às quatro da manhã tem lá suas vantagens. – Segurem-se. Jean Patrick vai acelerar as coisas.

x.x.x.x

- Alô? Uhum. Ele fez o quê? – Enzo questiona surpreso – Derek, coloca o telefone no viva-voz agora. – há uma pausa desagradável antes do próximo grito – JP, O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?... Uhum... Quantos carros?... Provavelmente. – ele se vira para olhar pelo vidro de trás. Faço a mesma coisa. Um SUV preto vinha atrás de nós, tão próximo que parecia que ia bater. Não dava pra ver nada dentro do carro. Estava de noite e os vidros eram muito escuros – Tudo bem. Faça o que for preciso, despiste-os e proteja o Livro.

Então desliga.

- Nathan, mudança de planos. Precisamos despistar esses SUV’s e depois seguir para o hotel.

- Sem problemas. – dito isso, ele vira rapidamente para a esquerda e sou empurrada para cima de Luke com Michelle me esmagando do outro lado.

Meu estômago é o primeiro a sentir as complicações dessa perseguição. Não sei se vou agüentar muito tempo.

x.x.x.x

- JEAN PATRICK, OLHA O CARRO! – Miranda berra no meu ouvido. Como se eu não tivesse visto. – Se a gente morrer agora, eu juro que vou fazer você se arrepender disso eternamente. – ameaça ofegante.

Freio em cima do outro carro e viro para a esquerda. Agora são três carros. Deve haver uma maneira de despistá-los. Entro à direita na próxima rua. Não tenho ideia de para onde estamos indo, só sei que estou tentando me afastar dos carros. Excelente, acabo de descobrir que estou na contramão e um caminhão de carga está vindo na nossa direção. Os gritos do resto das pessoas no carro só me fazem ter certeza de uma coisa: vamos morrer.

x.x.x.x

- NATHAN, FAÇA ALGUMA COISA! – grito no banco de trás.

- Rebecca, acalme-se. – Nathan tenta manter o tom calmo. – Desespero não vai nos levar a nada, a não ser um acidente.

- Eu concordo com Nathan, - diz Michelle – mas se você não acelerar, eles vão nos alcançar.

- Tá bom. Nathan acelere. – Enzo assume o controle – Eu vou pensar no que fazer.

- Maravilha! – ironizo. Então me lembro da única coisa que pode nos salvar.

x.x.x.x

Temos duas opções. Ou morremos em uma batida de frente com um caminhão, ou eu consigo escapar de um jeito ninja dessa situação. Acho que vou tentar escapar. Eu só tenho uma chance.

- Er... JP, o caminhão está a menos de 15 metros. – Derek me alerta.

- Só mais um pouco, só mais um pouco.

Faltando 5 metros para a nossa morte evidente, eu consigo virar o carro 180° e desviar dos SUV, que batem de frente no caminhão. Ninguém fala nada dentro do carro. Todos estão muito apavorados para conseguirem dizer algo. Eu também estou, mas alguém precisa dirigir até um local seguro.

- Derek, liga pra Enzo, avisa que já estamos indo para o hotel.

x.x.x.x

- O que você vai fazer com isso, Rebecca? – Luke se afasta de mim e pergunta assustado.

- Vou colocar na cabeça de Nathan e ameaçar estourar os miolos dele caso ele não corra! – digo, sarcástica. – O que você acha que vou fazer, Luke?! Vou tentar parar os SUV’s. Vocês não me deixam opção.

- Onde você conseguiu isso, Becca? – Michelle está completamente apavorada com a imagem da arma na frente dela.

- Não interessa. Isso vai salvar nossas vidas. – me viro para o vidro de trás e cochinho para mim – Eu espero.

Atiro no vidro, quebrando-o. O carro balança, e sou jogada em cima de Michelle.

- VOCÊ FICOU LOUCA, REBECCA? – Nathan surta – Da próxima vez que for atirar em algo enquanto eu estiver dirigindo a mais de 100 km/h, tente avisar!

- Então tá. Fique firme no volante. Michelle e Luke me apóiem. – fico de joelhos no banco de trás e miro no pneu. Erro por pouco. Nathan vira à direita e me dá uma chance de ficar de frente para o meu alvo. Miro novamente e não erro. O primeiro SUV roda e bate no segundo. O último, infelizmente, consegue escapar e atira de volta. Michelle e Luke se abaixam e eu mantenho a posição. Acho que estou meio suicida hoje.

- Acha que consegue acertá-lo sem se ferir, Rebecca? – Enzo pergunta, preocupado.

- Acho que sim. – respondo confiante e me agacho um pouco no banco. Luke e Michelle me seguram firmemente, para eu não fazer parte da adição de 0,1% nos índices de mortes em acidente de carro

Atiro novamente, três vezes, até que acerto o pneu. O atirador do SUV foi igualmente rápido: uma bala me atinge em cheio. Sinto uma queimação no meu braço. Michelle grita. Enzo gagueja algo em italiano. A mão de alguém faz pressão sobre meu braço. A dor me faz ver estrelas dançando e tudo rodando. E então tudo fica escuro.

x.x.x.x

Definitivamente, Miranda e Rute nunca mais entram em um carro, de madrugada, comigo no volante. Fomos para o hotel em segurança. Fiquei atento se não via nenhum sinal de alguém nos seguindo. Não se passaram cinco minutos que entramos no quarto, Enzo me liga para avisar que estão no hospital e Rebecca levou um tiro. Eu não precisei ouvir mais nada. Informei a todos que eu ia para o hospital. Posso dirigir mesmo na minha forma transformada. E seria muito arriscado se os outros fossem. Ignorando tudo que Zoey dizia – até ela – sobre risco desnecessário, eu parto para o hospital.

A moça da recepção pergunta nem meu nome. Antes de responder olho de relance para um espelho.

- Joanna Lasteff. Vim ver Rebecca Laurevan.

- Só um minuto, vou chamar o médico responsável.

Aguardo um pouco até que um homem de vinte e poucos anos se apresenta como Vítor e me acompanha até o elevador.

- Então Srtª. Lasteff, a Srª. Laurevan é sua avó ou algo do gênero?

“Não, ela é a garota que eu estou apaixonado.”, era o que eu tinha vontade de dizer. Lógico que eu não faria isso.

- Sim. É a minha mãe.

- A senhorita tem quantos anos? Se não se importar.

Meu alerta de cantada começa a gritar. Tudo em que eu sou gostosa nessa forma e tal, mas, teoricamente, minha mãe levou um tiro e está morrendo! Pelo amor de Deus!

- 15 anos. – meu telefone toca. Nathan. – Me dá licença, meu namorado está me ligando.

- Err... Claro. – entramos no elevador.

- Oi amor!

- Jean Patrick? É você? – Nathan dá um riso.

- Claro que sim, anjo. Sou eu, Joanna! Estou no hospital para ver mamãe. Onde você está? – torço para que Nathan entenda o que eu quero dizer.

- Estamos no hotel. Enzo está aí na forma de rato. Conseguimos que ele ficasse em uma gaiola do lado dela. Aparentemente ele não tem nenhuma doença e não apresenta ameaça para a saúde de Rebecca.

- Tudo bem môr. Eu vou desligar. Converso contigo quando chegar em casa. Beijo. Te amo.

- Faz-me rir. – diz e desliga.

- Desculpe, ele é muito ciumento. – Riu cinicamente para o médico.

- Sem problema. Aqui está o quarto da sua mãe. Quando quiser sair, basta apertar o botão azul.

- Obrigada. – agradeço e fecho a porta.

Rebecca está deitada, sua fisionomia é de uma idosa, mas é fácil ver a garota retardada que levou um tiro. Ao lado da janela, uma gaiola abrigando um rato deitado, exausto. Sento na cadeira ao lado dela. Sua expressão é de paz. Como se estivesse dormindo relaxada. Existe uma paz no ambiente que me dá segurança para conversar com ela.

- Você é uma boba, sabia? Novamente tentando ser a heroína. Da próxima vez, tente deixar a parte perigosa suicida para outra pessoa. Algumas pessoas se importam com você. Miranda, Michelle, Rute, Enzo... Eu. – abaixo minha cabeça, desviando o olhar dela. - Por mais que você ame Enzo e vá ficar com ele, eu ainda sinto algo por você. Não me importo com o que aconteça com a gente, mas tente se manter fora de perigo. Eu não vou suportar a ideia de vê-la em perigo e eu não estar por perto para protegê-la, me tira do sério.

Eu me levanto da cadeira e beijo os seus lábios suavemente. Afasto-me e deito para descansar no sofá ali do lado. Estou cansado de mais para continuar.

x.x.x.x.x.x.x.x.x

- Rebecca.- escuto uma voz distorcida. – Levante-se filha.

Abro os olhos e vejo uma mulher de vestido branco, com longos cabelos ondulados e castanhos, parada diante de mim. Minha reação é de repulsa. Algo me diz que eu posso confiar nela, mas prefiro-me afastar m pouco. Eu tenho de parar com essas intuições, elas ainda vão me por em algo arriscado.

- Não fuja, apenas escute. – A mulher diz e eu me endireito no local. – Meu nome é Astela, eu sou a sua mãe.

Mãe? Como assim? Eu nunca conheci a minha mãe, vi fotos, e essa definitivamente não é a minha a minha mãe.

- Sou a sua mãe biológica. Por favor, deixe-me lhe alertar, não há muito tempo. Não confie isso a ninguém. – Ela me entrega um pingente em forma de gota. – Há pessoas que não podem saber que isso está com você. Você deve guardar esse pingente com sua vida, o destino de vocês agora está na sua mão.

Olho para a pedra em minhas mãos. Ela é como cristal, com rachaduras rosa claro. É o pingente mais bonito que eu já vi. O choque me faz acenar positivamente para a mulher.

- Ótimo, vá em paz, minha criança. Ainda eis de fazer muito por todos.

Por um momento penso em gritar por ela. Queria conversar um pouco. Antes que pudesse fazer isso, tudo fica escuro e caio deitada.

Uma luz forte está na minha cara. Abro os olhos lentamente sentindo a presença de pessoas ao meu redor.

Enzo estava conversando com um médico e Jean Patrick segurava um pano embaixo do nariz sangrando. Faço um esforço para me levantar.

- Ma che bene! Está tudo bem, Rebecca? Tente não esforçar muito. – Enzo segura a minha mão me impedindo que eu me apóie na cama. – Você não vai poder mexer o braço por algum tempo.

Olho para o meu braço enfaixado. Lembro-me de tudo que aconteceu e tateio o pescoço. Sinto a presença do pingente no meu pescoço. E eu achando que a parte estranha era saber que eu virava velha, existia Aninox, e que sou de uma família com uma maldição milenar. Se alguém me falar que eu sou uma fada e vou morar na Terra do Nunca, sou capaz de acreditar.

- Enzo, precisamos sair daqui. Temos que voltar para o hotel.

- Rebecca, receio que você não poderá ir conosco. – ele me avisa.

- Como assim? – Ignoro a dor e me sento na cama. – Eu não vou ficar aqui. Eu posso suportar.

- Tá, você pode. – ri Jean Patrick, sarcástico – você desmaiou com um tiro de raspão, imagina se enfrentarmos algo pior! É melhor preservar a sua vida e a nossa segurança. VOCÊ FICA. – Conclui sério.

Olho para Enzo, esperando que ele me defenda, porém só escuto:

- JP está certo. E você não vai para lugar nenhum enquanto estiver como velhinha. – ele sorri no canto da boca - Vovó.

- Inacreditável! – deito, indignada, na cama. Ouch. Meu braço dói com a força do impacto.

- Vamos nos reunir com a equipe para ver quem vai ficar com ela.

Eles saem do quarto.

x.x.x.x

- Eu não vou ficar. – Oito vozes gritaram quando eu perguntei quem ficaria com Rebecca. Olho para Enzo questionando sua posição de namorado ideal.

- Hey, eu não posso deixar o grupo principal. Eu... Eu... – ele abaixa a cabeça envergonhado.

- Tudo bem. – digo com um longo suspiro – Eu vou falar com os médicos para deixar alguém com ela. Eles já aplicaram a vacina nela?

- Sim. – Nathan confirma – Ela só voltará ao normal quando tomar as pílulas.

- Eu falo com os médicos. – diz Enzo, e sai da sala.

- JP, vamos para o carro. – Zoey me puxa para fora.

- Eu vou com o Nathan! - Miranda informa.

Partimos para o carro. Michelle avisa que vai falar com Rebecca e pede para esperarmos no carro.

x.x.x.x

Um carneirinho. Dois carneirinhos. Três carneirinhos. Eu tenho de sair daqui. Quatro carneirinhos. Talvez, a janela possa ser uma boa saída, é próxima o suficiente para ninguém notar. Cinco carneirinhos. O único problema será minha boa forma de senhora de sessenta anos e sedentária fazer isso. Seis carneirinhos. Se eu conseguisse voltar ao normal. Aquela maldita vacina deve ter feito algo comigo. Já escureceu e eu ainda estou como velha. Sete carneirinhos. Oito carneirinhos. Já sei. Nove carneirinhos. Vou trocar de roupa e sair andando como se nada tivesse acontecido. É simples e infalível!

Levanto da cama bem lentamente. Minhas costas não suportam velocidade como suportavam anos atrás. Quando estou no meio do quarto, já pegando minha roupa. A porta se abre e Michelle entra. Eu fico estática, e tento fazer parecer que estava indo para o banheiro.

- Não se preocupe, Becca. Eu não vou demorar muito. Só quero te entregar isso. – ela me entrega uma caixa de pílulas – São boas para enxaqueca, dor nas costas, mau humor. Quase que uma fonte de juventude em capsulas. - Essa última frase ela fala bem baixo no meu ouvido. – Talvez você se sinta melhor e nos encontre na Torre Lucerna às 11 horas. Sempre precisamos das suas habilidades na equipe.

Ela sorri e sai do quarto. Michelle... Michelle... O que você está fazendo?

x.x.x.x

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails